quarta-feira, 26 de abril de 2017

temp

O Abraço, Egon Schiele, 1917


no acto bendito
e dilatado da visita
encontro
corpo adentro
o outro
no átrio o recebo
com carinho
dirigido que foi
com a mão
ao caminho
da porta trampolim
ele entra
e entra
e entra
entra ainda
e se repete
marinheiro repescado
prendendo-me na surpresa
do passadiço
de cordas içadas
perdendo-se em mim
vai o mar encapelado
temporal mais que perfeito
desagua náufrago
no fim do mareio
vem a nós  um mar
domado na ponta
eterna
do lingote dourado

segunda-feira, 24 de abril de 2017

coração cordeiro

Wool heart from Sarah Illenberger



no fim dessa roda viva
de holocaustos
para aplacar o teu medo
o meu coração cordeiro
cansado da ressuscitação
deixa-se ficar

sábado, 15 de abril de 2017

A morte tem a minha cara

Salvador Dalí, Ballerina in a Death’s Head, 1932




a morte tem a minha cara

na geometria incendiada
das mãos
atravesso a rua
desconhecido sorriso
famoso mil
vezes monalisa
para o outro lado
do espelho
onde os ossos
meros traços confluem
no logradouro da despedida
os veios rubros servem
de amparo comprometido
desculpa à libertação
da cauda pendente
(de cadáveres ondulantes)
rasante do vestido
no chão