domingo, 2 de novembro de 2014

cabelos


shedding the past woman and tree with falling leaves, folk art


Em breve vou deixar de ter cabelo. Cai-me aos molhos. O que nasce, que também é bastante, não o faz a uma velocidade suficiente para repôr as perdas. O que desaparece tinha levado muitos anos a crescer até aos ombros. Como uma árvore que se despe de folhas, o corpo despede-se dos atavios. Quanto tempo me resta de cabelo?
O que sei é que em breve chegarei ao ponto em que olhando para trás tudo fará sentido. Só olhando do fim para trás se faz luz no que vivemos, como dizia o filósofo. Neste momento, ainda, olhando para diante tudo é nevoeiro e interrogações, algum cabelo, pouco, disfarçado no meio dos ganchos, dos chapéus. Por enquanto ainda consigo manter a ilusão de ser a mesma através de estragemas ou feitiçarias, como queiramos chamar. Mas quanto tempo me resta de cabelo? 
Não deve ser muito, já. Ao contrário do que muitos pensam o tempo existe mesmo. E acelera a grande velocidade no final.

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