domingo, 7 de setembro de 2014

Eu, Bidú







Lembro-me sempre com saudades das minhas férias no Camping da Praia Verde. Eram várias caravanas e tendas de membros da mesma família alargada, cheia de crianças e adolescentes que faziam daquelas semanas as melhores do Verão. Até os cães tinham direito ao seu lugar no nosso acampamento de índios, como costumava chamar ao conjunto de atrelados e afins dispostos em circulo. Era um mundo encantado, fora do mundo. 
Lembro-me muitas vezes do cão da minha prima Patrícia, o Bidú. Era um cão divertido, jovem e meio estouvado. Todos os dias de manhã a primeira pessoa a acordar e sair da tenda dava com um presente do Bidú: um sapato, uma toalha, um alguidar, enfim, algo que o Bidú ia "caçar" e depois trazia aos seus donos com ar de triunfo a abanar a cauda. Um dia demos com ele com um enorme bacalhau seco na boca todo contente como quem nos oferecia o melhor tesouro do mundo. Sempre com aquela generosidade que só os cães têm para com os humanos. E nós horrorizados.

Às vezes sou eu o Bidú, de bacalhau na boca, a abanar a cauda de alegria pelo troféu que vou entregar a quem admiro. Tendo no entanto esta consciência plena da situação pode-se dizer que esta é uma imagem de humildade, ou se quisermos ser mais rigorosos, de humilhação. Mas uma pessoa não é um cão. Toda a humildade muito prolongada no tempo ameaça a dignidade.
Um cão pode dar-nos lições preciosas.
A primeira de todas: nunca seremos cães. Poisemos então o bacalhau.

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