quinta-feira, 10 de julho de 2014

Feridas




Especializei-me em feridas. Não, não é uma metáfora. Podiam ser números, receitas culinárias ou pintoras mexicanas mas no meu caso foram as feridas de pele. Fiquei presa ao fenómeno da cicatrização. O modo como a natureza enfrenta o caos com toda a calma. Por mais que a destruição seja devastadora a reconstrução acaba por chegar. E o segredo no tratamento das lesões é tão simples como respeitar a natureza. Porque a cicatrização depende do tecido vivo que existe ao redor do que morreu. A vida invade a morte num entrelaçar de fibras. Basta que se dê tempo ao tempo. 
O erro da maioria das pessoas é o excesso de zelo na desinfecção. Querem matar os germes, os invasores, os estranhos, o que pode ser diferente. E nessa ânsia de controlo usam substâncias tão poderosas que matam o  próprio corpo. Dificultando, atrasando, complicando a reparação do dano. Lutam contra si mesmas, por engano. Pura ignorância.
Por isso o que há a fazer é ter calma. Ter confiança. Aprender a esperar e a escutar as vozes íntimas, profundas. Aceitar que existe um caminho que pode ser doloroso mas que conduz a um estado melhor. 
A vida tem os seus mecanismos de defesa. A vida sabe construir. A vida é muito inteligente.
Já disse que não estou a usar metáforas, não disse?

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