Está num corvo que parece
de plástico pousado no parapeito da varanda da minha vizinha da
frente. Por vários dias o observei quieto, imperturbável até
perceber que era inanimado. Terá tido vida um dia? Ou será apenas
um protótipo inventado e produzido pela tecnologia humana, talvez
chinesa? Não o saberei. Descobri hoje que este corvo a fingir é uma
espantalho de pombos. Serve para afastar os outros elementos com
asas, dos que além de asas verdadeiras, eliminam excrementos
concretos e sujam as varandas, os parapeitos, a roupa estendida.
Fiquei a saber deste propósito traiçoeiro porque a dona do
artefacto, sorrateiramente, disparou uma pistola de água contra uma
pomba afoita que entretanto tinha ganho amizade ao seu congénere
fictício. Foi teimosa a pomba, sempre a regressar ao improvisado
poleiro onde o amigo involuntário parecia descansar. Foi teimosa a
vizinha, tentando fintar a ave com jactos de água de longa
distância. Mas a água não mata pombas. Pelos vistos nem sequer as
assusta por aí além. E não molha a curiosidade de conhecer um
semelhante.
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