terça-feira, 29 de julho de 2014

amigo involuntário






Está num corvo que parece de plástico pousado no parapeito da varanda da minha vizinha da frente. Por vários dias o observei quieto, imperturbável até perceber que era inanimado. Terá tido vida um dia? Ou será apenas um protótipo inventado e produzido pela tecnologia humana, talvez chinesa? Não o saberei. Descobri hoje que este corvo a fingir é uma espantalho de pombos. Serve para afastar os outros elementos com asas, dos que além de asas verdadeiras, eliminam excrementos concretos e sujam as varandas, os parapeitos, a roupa estendida. Fiquei a saber deste propósito traiçoeiro porque a dona do artefacto, sorrateiramente, disparou uma pistola de água contra uma pomba afoita que entretanto tinha ganho amizade ao seu congénere fictício. Foi teimosa a pomba, sempre a regressar ao improvisado poleiro onde o amigo involuntário parecia descansar. Foi teimosa a vizinha, tentando fintar a ave com jactos de água de longa distância. Mas a água não mata pombas. Pelos vistos nem sequer as assusta por aí além. E não molha a curiosidade de conhecer um semelhante.


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