sábado, 28 de junho de 2014

Prodígios






as palavras não são servidas em bandejas de canapés
estão por vezes no alto dos coqueiros
fico à espera que caia,
uma,
duas,
três,
pois não trepo
nem tenho macaco
por vezes oiço-as no Master Blaster (Jammin') do Stevie Wonder
e peço o milagre da migalha
que caia,
uma,
duas,
três
de um trecho de notas com ritmo
não estão na beira dos rios
podem pressentir-se no fundo dos abismos
para além dos abismos que nos convidam a saltar.
estão dentro de uma bota onde mora um lacrau perdido
e, se as queremos, há que calçar a bota e sofrer
as quarenta oito horas de dor
e todos nós sabemos
que quarenta e oito horas  de dor
dão uma memória lancinante para a vida toda
estão por vezes em sepulturas
a viver com os mortos
e todos nós já lemos dos assaltos
aos cemitérios
é para tentar a ressuscitação de
uma,
duas,
três,
de volta à terra
num desses pequenos prodígios
do dia-a-dia.



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