sábado, 12 de abril de 2014

DO DIA PARA A NOITE



É quase como aquela música do Chico Buarque de Holanda
em que ela é bailarina e ele é funcionário
e não se encontram.
Mas agora os ponteiros do relógio vão ao contrário.
Existe uma árvore grande, pode ser um embondeiro
que nunca vi mas que sei que existe.
Tu corres à volta do tronco e eu vou atrás de ti.
O Sol gira ao mesmo tempo que nós
por isso para lá das tuas costas é noite,
para lá das minhas é dia.
Corro atrás da noite.
Se ficasse parada e quieta acabavas por vir
de encontro a mim mas escolho continuar
temendo a mistura de sombra com luz em sentido reverso.
Tudo tem uma ordem natural,
a minha é correr para as tuas costas.
Tal como a tua é correr simplesmente.
Talvez a árvore nem exista,
e o movimento se sustente em carris imaginários.
Se o sol nos acompanha é porque nos dá o aval para continuar.
Isso basta-me.
Não estou cansada.
Deixei para trás o cansaço mal começei a correr.
Peito com costas.
Costas com peito.
Os opostos quase se tocando.
Nunca conseguindo.
O dia persegue a noite.
E a noite foge ao dia.
O Sol aprova, por isso está certo.
Corremos sempre.