segunda-feira, 31 de março de 2014

O CÃO

Quero ser o teu cão
contente,
correr pela casa
procurando a tua sombra,
ambicionando a cova
do teu colchão silente.
Quero ser o teu cão,
galgar as escadas da entrada
sempre que te vejo à porta
num arfar desmedido
quase rebenta a aorta
de quem não contém
a pressa
de se engalfinhar nas tuas
pernas
e entregar minhas carícias
subalternas.
O teu cão complacente,
o chão, o apoio,
o conforto, o meio
para chegar
mais alto e mais longe
nessa doce indignidade
de nem reparar
em quem é tão
baixo e pequeno
e com a língua te unge.
O teu chiuaua de circo
pateando as patinhas
da frente erguidas
num frenesim
de alegria, de pedincha
por um pouco de atenção
de toucinho, de courato
de um pingo de vinho
para que me esqueça
que sou cão e sou rato
incapaz de morder
a menos que alguém me peça
com ternura e carinho.