sábado, 15 de março de 2014

Esperar


Quero esperar por ti
rocha no meio do rio
sorrindo
à erosão dos anos
no lodo verde
freira ajoelhada
carpindo um rosário
em curto-circuito
alimentando o corpo
com um amor sem retorno
paciente e terno
como um fóssil incrustado
num mármore,
conservado
desde o início dos dias
como uma migalha de pão
esquecida na tua camisola
saboreando o teu suor
lavando a memória
com sabão de sangue
propagando-se no vazio
entre os planetas
até às muralhas imaginárias

Quero esperar por ti
como um flamingo cor-de-rosa
apoiado
ora numa perna
ora noutra
descansando
o corpo estátua
congelado
no espaço-tempo
como um monge tibetano
treinando Yoga
pernas entrelaçadas
por cima do pescoço
levitando a alma
acima da cabeça
num reino
de brancos fantasmas
despedidos do mundo,


Quero esperar por ti
simplesmente,
por teimosia,
sentar-me
separada da vida,
cruzando os braços
entrelaçando as lágrimas
e
esperar