Ainda ontem servia banquetes ao meu senhor e já hoje não
passo de uma escrava feia.
Fiquei a morar com os cães. Mas em vez de dormir sonho com o
Sol da minha aldeia.
Nesse tempo a montanha era branca. Essa côr fugiu para se
esconder. Gostava de um dia arrancar os olhos ao meu Senhor para lhe espreitar
os pensamentos. Seria preciso muita força pois tem olhos de ferro. As minhas mãos,
paus fininhos. Talvez pensar seja coisa de escravo. Tal como viver é coisa de
Senhor. Nesse caso seria como espreitar para um buraco sem fim. Lançar-me-ia
nele para alcançar o outro lado do mundo.
O meu trabalho é escolher os grãos. O que não é fácil pois
são como meus irmãos. Sinto-lhes a alma. Por isso deixei de comer. Cresce-me na
barriga um mar de lágrimas. As que não posso chorar pelo meu amor.