terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Clepsidra



Estou à porta.
Vejo um tempo
em que as portas eram de ferro,
eram muralhas de granito,
eram aço impenetrável
que eu com um gesto, uma ameaça,
uma brisa de respiração
escancarava, aríete infrene.
Mas esta não é uma porta de ferro,
de aço ou de granito.
Nem de madeira, vidro, vento.
É um espelho fechado
que me aventa a incapacidade.
Uma clepsidra que vai roubando
a água corrente do rio
de sangue feito fio tão fraco,
tão fino, rio feito de sal e rugas,
carne derrotada ao sol.
Estou à porta,
na clepsidra
o tempo secou.